3 de junho de 2004

Campanha eleitoral? Mas que campanha eleitoral?

Um destes jornalistas de ocasião abeirou-se de mim esta manhã e pediu-me que fizesse um balanço dos primeiros dias de campanha eleitoral. Não me aguentei. Muitas vezes o meu sentido de humor é mais forte do que eu. Que campanha? Estamos em Campanha? Para um dirigente partidário não é certamente a resposta mais adequada. Mas eu sou assim. Quase sempre meto o politicamente correcto pelo cano do esgoto e lá sai uma graçola. O certo é que o rapaz ficou tão desconcertado que seguiu o seu caminho em direcção a um qualquer outro cidadão mais cinzento do que eu que prontamente deu a sua sabia opinião sobre o assunto. Perdi uma oportunidade de ter uma fotografia no pasquim de amanhã.

Fiquei para ali refastelado às 11 da manhã com o meu café e água das pedras, à conversa com o meu amigo Zé Bernardo, o Pedro levou falta, hoje e ontem, na tertúlia da Tabacaria. Falamos do Júlio, sim deste mesmo o Guarda-redes Cantor do período pré Jurássico que por mão de Dona Berta Cabral vai dar concerto aos desconcertados de Ponta Delgada. Falamos também de eleições, destas eleições cuja abstenção, por mais que se esforcem os políticos será a maior de sempre.
O grande Povão é alheio às questões europeias e a classe média que sempre vai tendo alguma opinião, não irá prescindir de um bom fim-de-semana alargado, com uma ponte à Sexta-feira, para gozar uns dias de descanso e não vai regressar a casa mais cedo só para cumprir um dever cívico.
Além disso, anda-se a discutir se fulano é feio ou bonito, se sicrano chamou careca e caixa de óculos a sicrano, se o "penteadinho" vai para Bruxelas jogar golfe ou fazer politica, se o João Almeida devia cortar o cabelo e pedir desculpa ao Sousa Franco, se o Periquito de Sousa Franco é que tem culpa do défice ou se o Paulinho da feiras devia ter ido almoçar com o Cavaco de Boliqueime que quer, mas não quer, ser candidato a Presidente da República.

Anda-se a discutir se o apito amarelo e cartão vermelho são para a Força Portugal ou para o líder enferrujado do maior partido da oposição.
Anda-se a discutir se se diz ou não ao Manel o que quer que seja ou se o Louçã é ou não um padeiro de rolo na mão pronto para aquecer o pelo ao marido mal comportado.
Anda-se a discutir a baixa e pequena politica e não se fala das grandes questões europeias. Não se fala, porque o grande Povão está-se borrifando para essas grandes questões. O Povão quer é Bola e cerveja! À boa maneira de Roma antiga mas um pouco mais sofisticada. O campeonato da liga profissional é o Coliseu onde deambulam pela arena dois ou três leões esfomeados (Porto, Benfica e Sporting) e mais umas criancinhas vestidas com pele de cordeiro e uns quantos gladiadores, ( os outros clubes da liga) para serem humilhadas e comidos pelos leões. De vez em quando, lá de dez em dez anos, um dos gladiadores vence e logo se começa a falar de 4 grandes mas é coisa que passa rápida.

Não se fala de federalismo nem da Europa das nações, não se fala do IV quadro comunitário de apoio, não se fala do pacto de estabilidade e crescimento, da reforma da PAC, da reforma da politica comum de pescas, até já nem se fala da ZEE dos Açores.
E depois querem que o Povo vá às urnas.

Sem comentários:

Arquivo do blogue