28 de setembro de 2004

Rabo de Peixe

Desci a rua do Porto, ao meu lado, Aquilino Busto, um Asturenho, nado e criado há 60 anos em Cudillero, um "pueblo" pesqueiro perto da Avilez.
Coduzia com muita precaução e Aquilino mirava tudo em redor. Afinal fora ele que me pediu para visitar Rabo de Peixe. Dissera-lhe Manolim um outro de Cudillero que é mestre do seu barco, que por ali havia muitos marinheiros, pescadores e muita vida ligada à pesca. Tentando não atropelar as chinelas do Senhor António que estava sentado á soleira com as ditas meio metro mais à frente. Desviando-me das crianças meias nuas e descalças a correr de um lado para o outro sem olharem para baixo ou para cima, na sua liberdade, pobre, muito pobre, sem esperança. Mas liberdade. Ao final da Rua do Porto um arruamento novo, totalmente novo, mais "ancho", com duas vias totalmente tomadas por um par de Homens e um emaranhado de cabos e fios de nylon. Estavam desembaraçando aparelho tomando a via pública. Os carros desviavam-se por cima de um passeio ainda por pavimentar convenientemente. Aqulino mirava tudo incrédulo. Tudo lhe fazia espanto, os ranchos de rapazes pequenos, descalços, as mulheres de preto forrado e de lenço na cabeça, as raparigas sentadas à soleira quando era hora de estar a preparar o Jantar, as Jovens por todo o lado sentados ou deitados "grunhindo" uma espécie de dialecto do mar.
Falamos com pescadores. Sobre as suas artes de pesca e o modo de vida.
-Esta es una tierra de marineros e pescadores. Se siente in el aire. Aquí hay mucho potencial, pero, Nuno están en la edad de la piedra! - Disse-me Aquilino.
Corei, mas anui. Afinal tinha razão. Até ali tinha traduzido para o Plácido (um pescador de Rabo de Peixe) quase tudo o que Aquilino tinha dito, aquela frase não traduzi literalmente. Mas apeteceu-me. Claro que o meu convidado não falava do Paleolítico mas as suas palavras eram certas.
Saímos dali e fomos até à Ribeira Grande onde a humanidade já terá chegado ao neolítico.
Senti um sonido saído do seu bolso. Era o telemóvel
- Si aurora, estoy aquí con Nuno estuvimos en un pueblo pesquero. Aurora, tienes que venir aquí a ver como vive esta gente. Es increíble. Viven como se vivía en Cudillero en el tiempo de Franco.

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