5 de novembro de 2005

Serviço público de televisão I

Tal como previa, o debate da noite foi muito menos inovador do que o debate da tarde. Em primeiro lugar por ser um debate repetido, com mais de 10 anos, as mesmas promessas, quase os mesmos protagonistas e até se levantaram questões de 1983. E eu, ingénuo a pensar que se ia falar de futuro.
Ao contrário do que havia acontecido na tarde, onde os intervenientes não tiveram o peso de encher a sala mas regalaram os presentes com polémicas e questões bastante pertinentes sobre o serviço público de televisão.
Para salientar só as questões mais importantes, refiro a intervenção de uma Jovem Professora da Universidade do Minho, Helena Sousa. Fez uma resenha histórica da criação da televisão em Portugal e salientou a falta de independência da televisão pública em relação ao poder politico ao longo dos tempos. Apelou a uma maior participação cívica, salientando a bonomia das intenções do ex-Ministro Morais Sarmento em relação à 2: que não resultou para além do papel. Na verdade, a 2:, ao contrário do que se pretendia, não é feita pela chamada sociedade civil, pois são sempre os mesmos protagonistas e os mesmos conteúdos. Deixou ainda algumas perguntas no ar, "terá a sociedade civil pedido um canal de televisão?" "Quem, dessa sociedade civil, foi convidado a participar?" E ainda "quem tem condições para aceitar esse convite caso exista"?
Ficamos, ainda, sem saber que mecanismos podem garantir a isenção da RTP.
Tolentino Nóbrega, falou do serviço público de televisão na Madeira onde é tido pelo Governo "não como o órgão de informação regional mas como um órgão de propaganda", aqui nos Açores, cada vez é menos assim, felizmente.
Já José Grave da RTP-A, relembrou o papel que a televisão teve na consolidação da identidade açoriana e do reforço da ideia de região arquipelágica. Foi a primeira vez que ouvi alguém falar da importância estratégica da televisão nos Açores, não só como meio de divulgação das questões regionais pela totalidade das Ilhas mas também como meio de projecção dos Açores no Mundo.
Em meu entender, não nos devemos quedar pela satisfação de sermos capazes de nos conhecermos melhor uns aos outros por meio da RTP-A. Devemos mostrar ao mundo a nossa cultura e que somos capazes de discutir aqui, o que se passa em Tóquio, Nova Iorque ou no Irão. Mais do que nos fazermos ouvir a nós próprios, importa fazer os outros nos escutarem e aprenderem a nos respeitar pelo que pensamos.
É urgente que as decisões sobre o que é e não é serviço público de televisão saiam da esfera do poder politico, sem que se permita aos governos lavarem as suas mãos no que concerne ás responsabilidades do Estado na garantia do serviço público.
Do painel da noite, Vasco Cordeiro foi quem conseguiu ir mais longe, deixando uma réstia de esperança. Pela sua voz saiu a confirmação de que o Governo regional não pretende a tutela da RTP-A. No entender daquele Governante, "cabe ao Estado assegurar o serviço público de televisão nos Açores".
Acho essa estratégia perigosa para a nossa autonomia mas percebo que o Governo do PS não queira ficar com o ónus de pretender dominar financeiramente a RTP-A, evitando assim, suspeições quanto ao seu controlo no que diz respeito aos conteúdos.
Pessoalmente, como nacionalista açoriano, entendo que a nação açores, tal como a Catalunha, o País Basco ou a Galiza, devia ter a sua televisão. Com a entrada dos canais generalistas regionais em sinal aberto para toda a região, a TV dos Açores terá que assegurar a sua emissão com mais produção regional, esse pode ser o caminho da sua independência face à casa mãe. Falta assegurar o financiamento. Aguardo pelo dia de amanhã (hoje) mais debate e mais conclusões.

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