3 de julho de 2015

Como aos costumes...

Hoje, como é costumeiro à sexta-feira de há uns tempos a esta parte, li o Açoriano Oriental da ultima para a primeira páginas.


Hoje, como de costume, o grande, o enorme, João Nuno Almeida e Sousa acertou na mosca no seu texto elogioso à peça de Dinarte Branco e Nuno Costa Santos " I don't belong here". Não vi a peça, nem sei como o assunto foi tratado. No entanto, vivi muitos anos perto desta triste realidade que a peça teve, segundo o JNAS, a virtude de fazer muita gente reflectir. Ele próprio foi desperto para esta realidade.
Nos Açores, como no resto do país, a desgraça e a miséria têm servido para resolver os problemas de emprego de muita gente que está instalada à volta desta "indústria" mas pouco tem resolvido dos problemas de quem é vitima desses flagelos. Salvo raros projectos de sucesso, quase todos os que conheço e já tive o cuidado de investigar  consomem grande parte (a maior parte)dos recursos que lhes são alocados para manter as suas máquinas administrativas e em recurso humanos que nem chegam a reflectir sobre o assunto. Muita gente fez carreira da solidariedade e da inserção social e pouca gente fez alguma coisa por essa gente cuja miséria lhes garante o emprego e o rendimento para levarem um vida acima da média das almas boas desta terra que fazem alguma coisa por quem mais precisa.

Mais uma vez a formação na doutrina social da Igreja e a minha matriz democrata cristã me obriga a atirar pedradas a este charco que o JNAS também tentou agitar depois do mote da peça em questão.

Para quem não teve oportunidade de ler aqui fica o texto do João Nuno.

Desterrados
São personagens da vida real que povoam a peça “I don’t belong here” de Dinarte Branco e Nuno Costa Santos. No palco estão “repatriados” que nos confrontam com as suas vidas e a trindade atávica de abuso-violência-alcoolismo que os perseguiu até ao outro lado do Atlântico. Gente que cedo viu o sonho americano transformar-se num pesadelo sem fim. Descarregados em S. Miguel como mercadoria, vivem na ilha não uma segunda oportunidade, mas uma segunda pena de prisão. Estigmatizados, confinados a esta espécie de “Alcatraz”, cercados pela neblina e pelo preconceito, circulam à margem da sociedade numa agonizante rotunda cujas voltas se repetem em eterno retorno. A peça não branqueia o passado dos protagonistas, mas exibe a dimensão desumana da “deportação”. Em 1996, o Congresso dos EUA aprovou uma lei de deportação retroactiva, automática, sem mediação judicial, implicando que milhares de imigrantes legais sem a cidadania americana fossem recambiados para a sua terra natal por crimes pelos quais já tinham cumprido pena. Essa desumanidade está em carne viva numa peça que incomoda tanto quanto emociona. Com episódios comoventes e outros do absurdo da vida, humaniza a pessoa que se esconde na palavra “repatriado”. Esta é a verdadeira função da arte: convocar-nos a reflectir.


João Nuno Almeida e Sousa



PS: O João Nuno Almeida e Sousa está filiado no partido errado, um desperdício.

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