25 de novembro de 2017

Coluna Liberal-Diário dos Açores-2017.11.24


As resistências europeias, depois da revolução Francesa, ao Novo Regime foram muitas. É até compreensível, à época, que as chamadas potencias absolutistas da Europa - Áustria, Prússia e até a Rússia- tenham oferecido resistência às ideias desse novo regime burguês. Em países como Portugal, Espanha ou a França saída da revolução de 1789, essa resistência torna-se menos compreensível. No entanto, sabemos, a origem da cisão da França em duas metades religiosas e a enorme resistência que Napoleão de Bonaparte impôs à igreja de Roma.

Ora, em sociedades impregnadas de catolicismos muitas vezes barrocos, as resistências a esse novo regime haveriam de ser ainda maiores e como tal mais visíveis.
No entanto, o rastilho estava acesso desde a tomada da Bastilha e a sucessão de acontecimentos políticos e sociais na decorrência das guerras Napoleónicas haveriam de potenciar esse Novo Regime. Mesmo assim, Portugal permanecia um Pais resistente.
No dealbar de XIX Portugal era um pais essencialmente do Antigo Regime. Governado por um príncipe com capacidades intelectuais de duvidosa estirpe e por uma rainha louca, era um reino essencialmente agrícola que comerciava, incipientemente, com os seus parceiros tradicionais essencialmente vinhos e cortiça. O bloqueio continental e as invasões francesas poriam por terra esse mesmo que reduzido comércio.

O quadro político europeu, e a deslocalização da Corte para o Brasil ludibriando assim Napoleão, as invasões Francesas o acordo de comércio com a Inglaterra e mais uma mão cheia de razões ajudam-nos a compreender o processo histórico de construção desse novo regime em Portugal no primeiro quartel de XIX.

Hoje, no entanto,  na era da comunicação digital, do conhecimento cientifico, do avião supersónico, das viagens espaciais, do web summit e da inteligência artificial, ao invés de nos tentarmos libertar das peias do Estado perdulário e endividado, “controleiro” e omnipresente, cavamos ainda mais o fosso entre as liberdades individuais e aquelas que cedemos a essa tal entidade absoluta que não olha a limites de ação.

Cada vez mais, as nossas liberdades individuais, vão diluindo-se quanto mais o Estado vai avançando nos limites da sua acão. O Estado de hoje constrói narrativas falaciosas sobre necessidades que não temos nas quais se entretém a destruir riqueza que o obriga depois a contrair empréstimos externos para satisfazer os seus compromissos. O endividamento externo do Estado compromete o bem-estar da nação a médio e longo prazo mas garante a uns poucos a manutenção de pequenos poderes no imediato. Esses temem o Estado Democrático Liberal porque temem a liberdade dos seus iguais.

A resistência às ideias liberais de hoje não tem a ver com ameaças externas ou com guerras internas. A resistência ao estado liberal de hoje tem a ver com a manutenção do poder entre uns poucos e entre sempre os mesmos, sejam de que fações forem.

Já por várias vezes aqui me debrucei sobre o grande fosso entre ricos e pobres, entre os poucos que têm muito e os muitos que têm pouco. Esse fosso está cada vez maior, ou seja cada vez são menos os que mais têm e mais os que menos têm. Alguns dos que deviam defender o Estado Liberal, culpam-no desse fosso. Fazem-no gratuitamente, cegamente, por convicção doutrinária quase como se de uma religião se tratasse, sem tentarem perceber as suas causas passadas e presentes e os seus reflexos num futuro muito próximo.

Ao invés do que dizem as esquerdas habilidosas, os Estados liberais e  neoliberais não produzem pobres. Bem pelo contrário. São os estados excessivamente reguladores e excessivamente regulamentadores que condicionam as funções económicas e as restringem a alguns grupos os que mais contribuem para essa assimetria na concentração da  riqueza.

Como já aqui escrevi num passado recente, o acesso aos meios de financiamento da economia, nos dias de hoje, fazem-se, por decreto,  apenas por parte de quem já tenha um histórico e uma boa parte do capital a investir. Ironia das ironias, o restante capital que vem do Estado é fruto do trabalho e dos impostos daqueles que não terão jamais acesso quer ao investimento quer ao bens e serviços que alguns desses investimentos proporcionam ou disponibilizam.

Desde a revolução de 1820 que a resistência às ideias liberais é uma constante. Não se compreende bem o “argumentário” assim como  muito menos se entende a origem dessa resistência por vir das forças politicas e sociais que melhor e mais deveriam acolher essas ideias. Hoje ser liberal está conotado com ser de direita, ser neoliberal é quase um sacrilégio.

1 comentário:

Anónimo disse...

" As resistências europeias, depois da revolução Francesa, ao Novo Regime foram muitas."
Depois da revolução Francesa, as resistências europeias ao Novo Regime foram muitas.
Muita cera queima a igreja. Simplicidade é sinónimo de elegância.

As monarquias opuseram-se à revolução mas os ideais da revolução permearam todos os povos europeus. Aliás, foi precisamente por esta razão que as monarquias opuseram-se à ideologia revolucionária. Uma ideologia provinda do exterior que implantou-se profundamente no íntimo da civilização europeia.: a democratização.


As revoluções não são inteiramente determinadas pelas ideologias que as inspiram. A ideia de que a revolução francesa degenerou em totalitarismo é apenas parcialmente plausível. A raiva irreprimível dos recentemente formados citoyens teve muito mais a ver com as condições políticas e sociais pré-revolucionárias do que com as ideias propriamente ditas. Há que questionar o antropocentrismo. Curiosamente, esta ideia de que a realidade é constituída de cima para baixo (das ideias par
é o mais importante atributo do pensamento totalitário. O "racionalismo lunático" criticado por Popper, Collingwood, Oakeshott e muitos outros. Não deixa de ser interessante cometeres exactamente o mesmo erro de Robespierre enquanto o criticas.

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